RITO vem da palavra latina ritus, que designa a ideia de formalismo, de algo convencional que significa “uma prática” um “costume aprovado” e uma “observação exterior”.
A Maçonaria sendo uma Ordem Iniciática, apoia-se em Ritos cujas raízes advém das práticas ancestrais e tradições antigas.
O Rito é uma cerimónia que se traduz num conjunto de preceitos e obrigações gerais, que produz efeitos sobre aqueles que estão sob seu alcance, devendo o Rito ser praticado de acordo com um Ritual expressamente pensado para o efeito e que consiste na sua instrução normativa, ou seja, num manual de procedimentos que circunscreve e regulamenta a forma como o Rito deve ser praticado e observado.
O Rito consiste, no conjunto de regras e cerimónias que se constituem num todo, coerente, harmonioso e organizado por diferentes graus. Aprendiz, Companheiro e Mestre e que constituem a denominada Maçonaria “azul” ou Maçonaria simbólica.
O Conjunto de Ritos Maçónicos existentes na atualidade foram codificados e evoluíram ao longo dos tempos, acompanhando a própria evolução das sociedades e dos cidadãos que as compõem.
Para conseguir uma perceção dos ritos praticados na maçonaria é necessário estudar a época em que a maçonaria era ainda “operativa”, ou seja, quando maçons eram efetivamente os mestres construtores das catedrais e dos grandes templos, onde tinham por função erigir as mais diversas obras, com predominância para as igrejas e lugares de adoração. Nessa época a ordem não conhecia distinções, todos os maçons eram construtores, arquitetos dedicados a edificar os mais belos e majestosos edifícios, em que todos seguiam os mesmos costumes e possuíam as mesmas leis e formas de reconhecimento.
O ato de transição que tornou a maçonaria operativa na maçonaria filosófica – ou especulativa como se diz na atualidade – não foi algo simples ou rápido. Durante este período de reforma da instituição Maçónica, diversas ordens surgiram e, por diversas formas, contribuíram para que a atual maçonaria, progressivamente se amoldasse à própria evolução da sociedade.
A institucionalização da maçonaria moderna realizou-se com a fundação da Grande Loja de Inglaterra, em Londres, em 24 de junho de 1717, já completamente desvinculada da tradição operativa, como primeira Obediência institucional congregando diferentes lojas numa lógica de federação.
Cerca de 1728, surge a primeira loja maçónica especulativa em Portugal, fundada em Lisboa. A partir deste ponto a maçonaria especulativa ou filosófica tornava-se uma grande sociedade sem fronteiras e difundida em muitos países, adaptando-se e adotando por esse facto as crenças e costumes diferentes e locais, dando origem a transformações e diversificações, que culminaram com o surgimento de diversos ritos.
Em Maçonaria nenhum Rito tem supremacia sobre qualquer outro, e qualquer Rito é sempre pertença de todos os Maçons do Universo.
As Lojas da Grande Loja Unida de Portugal, praticam os seguintes Ritos:
- Rito Escocês Antigo e Aceite
- Rito de Emulação
- Rito Francês
- Rito de York
- Rito Português
Os Rituais em Maçonaria
O Ritual maçónico é o conjunto sistemático de cerimónias e ensinamentos praticados no seio das Lojas. Estes Rituais variam de acordo com o período histórico, conotação, objetivo e temática dada pelo seu criador; muitos ritos existiram por breves períodos de tempo e foram extintos, outros mantém as suas tradições com adaptações à evolução das sociedades e outros ainda vão surgindo respeitando as antigas tradições, mas dando respostas às novas realidades do mundo em que vivemos, este é o caso d’O Rito Português.
Podemos assim enunciar que os Rituais definem assim as práticas de cada Rito, para a abertura, encerramentos dos trabalhos em Loja e para os seus trabalhos.
Os Rituais maçónicos não possuem qualquer hierarquia, nem são concorrenciais entre si. Cada um deles corresponde a uma sensibilidade e a uma aproximação particular à história da espiritualidade. Contudo, existe algo que todos possuem em comum, i. e, os princípios fundamentais pelos quais se rege a maçonaria, tais como a Tolerância, o amor à Humanidade e a busca da verdade.
- Rito Escocês Antigo e Aceite
As origens do Rito Escocês Antigo e Aceite entroncam diretamente na Grande Loja Real de Kilwinning, a Ordem de Santo André do Cardo, a dos Mestres Escoceses de Santo André e o Rito de Perfeição ou de Heredom. Existe alguma controvérsia sobre a influência templária no R.·.E.·.A.·.A.·., mas os estudos recentes, feitos por Nicola Aslan e José Castellani, nos seus diversos livros, dão-nos conta de que o templarismo não influenciou o R.·.E.·.A.·.A.·. propriamente dito, mas sim o Rito de Perfeição ou de Heredom, com Andrew Ramsay, cavaleiro escocês que protagonizou a criação deste rito em solo francês, ocasião em que proferiu dois discursos de grande repercussão a respeito do assunto.
O Rito de Perfeição ou de Heredom foi por esse motivo o ponto de partida para o R.·.E.·.A.·.A.·. que, no entanto, passou por vastas modificações até se ter tornado no que é hoje.
O Rito, tal como hoje o conhecemos e praticamos, estrutura-se a 31 de maio de 1801, ao constituir-se em Charleston, na Carolina do Sul, o Primeiro Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais do XXXIII e Último Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite.
O Rito Escocês Antigo e Aceite ou R.·.E.·.A.·.A.·. é assim, um Rito dentro da Maçonaria, que deriva do Rito de Heredom e da época da fuga dos Cavaleiros Templários para a Escócia.
Ligados ao Antigo Testamento e à lenda de Hiram (lenda base da Maçonaria simbólica) julga-se que alguns dos ritos descritos eram praticados por outras ordens secretas existentes em França como os Martinistas, na Alemanha como os Illuminatti e os Rosa-Cruz e na Escócia como os Templários (estes refugiados nesse país depois da sua perseguição nos Grémios ou Lojas da classe profissional dos Pedreiros Livres aí existentes).
- Rito de Emulação
O Ritual de Emulação constitui-se como um Cânone de um conjunto de Rituais dos vários Graus, estabelecendo a simbólica e a iconografia, os valores, os conceitos e a identidade própria destes, assim colocando o Rito em movimento.
Em Inglaterra, a Emulação é uma forma de trabalho Ritual, “o Working”, encontrando-se esmagadoramente difundida e é aqui praticada em paralelo com muitos outros sistemas de trabalho ou “Workings” (Bristol, Logic, Oxford, Perfect, Revised, Stanford, Stability, Sussex, Taylors, Craft Guide, Universal, Complete Workings, Shakespeare, Pelliper, West End, etc.) que diferem muito pouco entre si, mas que, no seu conjunto são formas de trabalho do chamado Rito Inglês.
Na verdade, após o ato de união em 1813, estabeleceu-se o que se começou a designar por Rito da Reconciliação e que pretendia corresponder, numa visão mais Europeia Continental, a um único Ritual, mas com ligeiras diferenças permitidas e desenvolvidas antes do estabelecimento do Cânone. Salienta-se ainda, que a Maçonaria Inglesa se refere a si, no seu todo, como “The Craft”, não designando, portanto, um Rito.
- Rito de York
A prática dos Rituais York, tem duas correntes principais a saber: uma na Ilha (Grã-Bretanha) e outra na América do Norte, de modo algum antagónicas, mas espelhando as realidades onde foram abrindo caminho envoltas nos conflitos religiosos e políticos dessas épocas. O percurso dos monarcas reinantes na Ilha após 1535 (período Tudor) é agravado com os dois períodos Stuarts, pela governação Commonwealth e pela Hannover e as inerentes convulsões de carácter religioso (Católicos, Anglicanos, Protestantes…) e ainda com os problemas decorrentes do Tratado da União de 1707 e do Ato da União de 1800 — Jorge III.
No continente Americano, para além das colónias de França, Espanha, Holanda, etc., temos o estabelecimento das 13 Colónias de língua Inglesa, a primeira delas a de Jamestown na Virgínia, a segunda de Massachusetts e a terceira de Nova Inglaterra maioritárias de Peregrinos, Puritanos e Protestantes/Calvinistas e de alguns fugitivos. Estes colonos são defensores de rigor e de livre pensamento pugnando pelo direito à instrução e à interpretação da Bíblia.
Até 1744 possuía apenas os três graus simbólicos, quando foram introduzidos vários graus filosóficos.
A guerra da Independência decorre de 1775 a 1783, sendo o primeiro grande ato de revolta em Boston, o lançamento ao mar do chá que estava a aguardar desembarque, em 16 de Dezembro de 1773. A declaração de Independência escrita por Thomas Jefferson é assinada em 4 de Julho de 1776 mas só fica ratificada pelo Tratado de Paris em 1783.
Estes dois caminhos geram pequenas diferenciações na prática dos Rituais, mas acima de tudo, é mantida a grande componente inicial: A Ritualística e a sua vocação Cristã. Os ensinamentos e parábolas são maioritariamente inspirados no Antigo Testamento.
Em Inglaterra, os registos mais antigos encontram-se referenciados nas atas de 1751 da Grande Loja dos Antigos.
Anteriormente a história confunde-se com a lenda. Athelstane, rei de Inglaterra da Casa de Wessex, que reinou de 2 de Agosto de 934 a 27 de Outubro de 939 e foi sepultado na Abadia de Malmesbury em Wiltshire, teve um filho Edwin, que por sua ordem terá realizado uma Assembleia de Maçons onde foi redigido o Primeiro Regulamento Geral.
Em 1389 é redigido o Manuscrito Régio que consigna o tema anterior e dá o facto passado na Nortumbria cuja capital é a cidade de York.
- Rito Português
O mote do Rito Português é: “A minha pátria é a língua portuguesa”.
O Rito Português integra e reforça a aplicação da estratégia da Grande Loja Unidade Portugal, tanto no que se refere à imagem interna da nossa Obediência como à implantação no exterior, através das Lojas promovidas por maçons portugueses emigrados e luso-descendentes e junto dos países de língua portuguesa, prestando um serviço à Maçonaria portuguesa e a Portugal.”
O Rito Português tem como Missão:
Constituir e apoiar a instalação de Lojas, em Portugal e no estrangeiro, do Rito Português, em estrita observância dos Landmarks, das Constituições e dos demais usos e costumes da Maçonaria regular;
Aprofundar o conhecimento, formar e fomentar a divulgação da história e da cultura portuguesas e dos países irmãos;
Contribuir e apoiar a estratégia de Portugal e das suas parcerias estratégicas de que se realça a Comunidade de Países de Expressão e Língua oficial portuguesas, nas áreas de atuação consideradas maçonicamente regulares, em que podemos e devemos intervir.
Os maçons portugueses, os maçons que falam português, quer estejam nos países que têm língua oficial portuguesa quer estejam noutras regiões, todos, são os destinatários do Rito Português. Desejamos que o Rito Português seja tradicional, integrador dos princípios e referências maçónicos e do nosso passado histórico; mas também um Rito inovador, atual, apreendendo as perspetivas para Portugal e dos países com língua portuguesa, facilitando o seu desenvolvimento, disponibilizando vias para a sua evolução, numa visão aberta, que sirva e ajude os maçons que falam português, a encontrar razões e emoções comuns, estejam onde estiverem. Um Rito que integre as alavancas da sua constante atualidade e diversidade.
Quase nada do que houve de portador de futuro, de esperança, de sonho, foi realizado em Portugal sem o contributo de Homens que partilharam estes valores…
Não obstante a Grande Loja incorporar diversos Ritos que se praticam por todas as Maçonarias espalhadas pelo globo, existe um rito, o Rito Português que é o seu fator diferenciador e onde todos os Maçons se devem reconhecer, que exalta as virtudes dos portugueses e faz realçar o orgulho de sermos uma nação com história e que contribuiu no passado como o fará no futuro para a existência de um mundo melhor.
O Rito Português contém em si todos os fundamentos antropológicos, históricos, míticos e ritualísticos, do complexo imaginário ecuménico Português. Um Rito Universalista. Um Rito que reúne tudo o que de unitário há no ser humano, transcendente a qualquer relativismo.
O Rito Português tem abrangente potencial heurístico e hermenêutico, articulando o longo processo cultural (mitológico e arquetípico) do nosso imaginário profundo, com uma enorme riqueza estética, cénica e teatral.
“Por Portugal, porque aqui nascemos, onde nasceram os nossos antepassados, aqui
estão as nossas raízes, aqui estarão sempre as nossas almas.”